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Consumidor fica mais cauteloso com novas dívidas
A menor disposição de assumir dívidas fica clara diante dos resultados das consultas para vendas à vista no mesmo período
O apetite do brasileiro por crédito está perdendo o fôlego, apontam três indicadores do varejo. Depois da farra de compras, fomentada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os eletrodomésticos e veículos, o consumidor ficou mais cauteloso na hora de assumir novas dívidas.
Em janeiro, a procura por crédito medida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) com base nas consultas para vendas a prazo cresceu 4,6% na comparação com o mês anterior, levando-se em conta o mesmo número de dias úteis. Em dezembro, o acréscimo havia sido de 5% em relação ao mesmo mês de 2008.
A menor disposição de assumir dívidas fica clara diante dos resultados das consultas para vendas à vista no mesmo período que, ao contrário do crediário, se aceleraram. Em janeiro, as vendas à vista aumentaram 7,9% na comparação com o mesmo mês de 2009, depois de terem subido 3,8% em dezembro na comparação anual.
O arrefecimento da procura por crédito já foi captado pelo Indicador de Perspectiva de Crédito da Serasa Experian, que mede a tendência do crédito dos próximos seis meses. "Desde setembro, esse indicador vem recuando mês a mês", diz Luiz Rabi, gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian. Em setembro de 2009, o indicador que mede a perspectiva de crédito com recursos livres, abrangendo 325 variáveis, estava em 106,6 pontos e caiu para 103,9 em dezembro.
Ele atribui a perda de fôlego na procura por crédito à antecipação do consumo após o corte do IPI, ao aumento do endividamento e à perspectiva de alta dos juros. "O ritmo mais brando de procura por crédito não será capaz de evitar a subida da taxa básica de juros, a Selic."
Outro indicador da Serasa Experian, divulgado ontem, confirma a menor procura por crédito este ano, apesar de o índice não estar livre das influências sazonais de dezembro para janeiro. Em janeiro, o número de pessoas que buscou qualquer tipo de financiamento, do cartão de crédito ao financiamento bancário, caiu 1,1% ante o mês anterior, segundo o Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito. Já na comparação com janeiro de 2009, no auge da crise de crédito - portanto, uma base fraca -, houve alta de 14%. O indicador, de âmbito nacional, leva em conta as consultas por CPF (Cadastro de Pessoa Física) uma única vez e exclui cheques.
Passada a data de maior consumo do ano, o Natal, em janeiro o indicador mostra que houve retração na demanda por crédito em todos os estratos de renda na comparação com o mês anterior, exceto para a população que recebe entre R$ 1.000 e R$ 2.000 por mês, que ampliou em 0,4% a demanda por crédito. O maior recuo, de 3,1% em janeiro, na comparação com dezembro, ocorreu entre os consumidores que ganham entre R$ 500 e R$ 1.000 mensais.
Para Rabi, o espaço para o endividamento adicional está menor, depois de dois meses consecutivos (novembro e dezembro) de alta da demanda por crédito em relação ao período imediatamente anterior.
CONFIANÇA
Apesar da maior cautela na hora de comprar a prazo, o Índice de Nacional de Confiança do Consumidor da ACSP, medido pelo instituto de pesquisas Ipsos, atingiu recorde em janeiro, com 149 pontos, ante 142 em janeiro de 2009 e 146 em dezembro. Segundo a pesquisa para calcular o indicador, caiu de 44% para 43% a fatia de consumidores que em janeiro se sentiam menos dispostos a comprar um eletrodoméstico em relação a seis meses atrás.