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"Infodemia": aumento no consumo de informações provoca sobrecarga mental
Segundo pesquisa, 67% dos brasileiros se dizem saturados por excesso de informações; veja como evitar
Durante a pandemia da Covid-19, mais de 50% dos brasileiros têm consumido "mais ou muito mais" notícias em comparação a um ano normal. Além disso, três quartos deles sentiram-se saturadas por causa da grande quantidade de informações sobre um mesmo tema. Essas conclusões são do estudo "Infodemia e os impactos na vida digital", desenvolvido pela empresa de cibersegurança e privacidade digital Kaspersky, em parceria com a companhia de pesquisa CORPA.
A palavra infodemia foi usada pela primeira vez em 2003 pelo jornalista e cientista político David Rothkopf, em uma coluna no jornal "Washington Post" sobre a epidemia de SARS. O termo se refere à disseminação rápida e abrangente de notícias reais e falsas que dificultam a compreensão das pessoas sobre um assunto.
Os peruanos (61%) foram os que mais aumentaram o consumo de notícias durante a pandemia, seguidos dos chilenos (53%), argentinos (52%), brasileiros (51%), mexicanos (51%) e colombianos (45%). Quanto ao sentimento de saturação por conta do excesso de informações, os dados trazem os cidadãos da Colômbia em primeiro lugar (81%), seguidos da Argentina (79%), Peru (78%), Chile (77%), Brasil (67%) e México (62%).
"Os resultados preliminares reforçam apenas o quão profundo foram os impactos da pandemia e do isolamento social. Tivemos de aprender sobre o vírus e como combatê-lo, e nos adaptar às regras de distanciamento - e ainda estamos tendo de lidar com isso um ano depois", avalia Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil. "Nossa pesquisa mostra que muitos se sentiram esgotados com este novo contexto. É como um ataque de negação de serviço (ciberataque que tenta sobrecarregar um site/serviço com múltiplos acessos) ao nosso cérebro, que, ao atingir o nível de saturação, faz a pessoa 'desligar'", acrescenta.
Como era de se esperar, os temas que mais sobrecarregaram as pessoas foram a pandemia e correlacionados. Nas primeiras posições estão a atualização diária do número de infectados e mortes pela Covid-19 (77%), orientações de prevenção do vírus (44%) e a corrida da vacinação (32%).
Assolini também destaca a relação entre informação, combate à pandemia e o comportamento humano. "Por se tratar de um vírus novo, as autoridades não tinham como dizer qual era a melhor forma de combate e isso deixou espaço para notícias falsas. Foi necessário repetir por diversas vezes a importância das ferramentas de proteção: máscara, álcool gel e distanciamento - mesmo assim presenciamos aglomerações e falta da máscara. Se isso está acontecendo com algo tão importante como a saúde, como está o comportamento das pessoas com sua privacidade e segurança online, sendo que nossas vidas se tornaram majoritariamente digitais?"
A preocupação é plausível. Durante todo o período pandêmico até o momento os especialistas da Kaspersky identificaram golpes explorando vários temas e reforçando ainda mais a desinformação, como phishing, oferta de vacinas na darknet e sites falsos com cadastro para vacinação, com o objetivo de roubar dados pessoais. Mas como garantir que as pessoas tenham as informações corretas para combater os desafios do vírus e golpes online?
Para Assolini, um caminho para solucionar a infodemia é entender os motivos que fizeram os cidadãos consumirem menos notícias. "Os resultados mostram que as pessoas sentem-se ansiosas (38%), estressadas (36%), pessimistas (35%), com raiva (30%) e deprimidas (24%). De fato, houve e ainda há muitas notícias para lamentar, mas se esse tom negativo afasta as pessoas das informações que precisam receber, será que uma abordagem positiva pode atrair novamente a atenção?".
Além disso, o analista também recomenda que práticas positivas para a saúde na rotina física corporal sejam adotados de maneira similar para as atividades virtuais. Confira as dicas:
Crie hábitos saudáveis
Para uma vida equilibrada, temos de organizar nosso tempo para a realização de atividades físicas, fazer refeições de quatro em quatro horas e dormir cerca de oito horas. "Temos que levar essa prática para o mundo virtual, organizando um período do dia para ler notícia, outro para responder e-mails e mensagens. Vale a pena também usar a função assistir/ler mais tarde, presente nas redes sociais e navegadores", sugere Assolini.
Faça uma pausa
Seja na escola ou em um evento corporativo, sempre há um intervalo após um período de concentração e trabalho intenso. Essa pausa é essencial para que o cérebro possa descansar e se preparar para absorver mais informação. "Criamos o hábito que temos que fazer tudo em tempo real, mas isso não é verdade. Não precisamos comentar um post no exato momento que foi postado. Não temos de aproveitar uma promoção na hora em que vemos o anúncio. Não devemos tomar uma informação como verdadeira só porque recebemos um link. Nosso cérebro precisa 'digerir' algumas informações e precisamos dar o tempo para ele reagir a tudo que acontece no dia a dia", reflete o especialista.
Desligue
Fazer uma atividade intensa por um período tem efeitos benéficos, mas tudo em exagero é ruim. Assim como é importante ter horas de sono mínimas para o corpo relaxar, o cérebro também precisa de um intervalo. "Sugiro que as pessoas desliguem as notificações do celular por pequenos períodos - e durante a noite. Isso permitirá ao cérebro descansar e clarear os pensamentos", finaliza.