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Dólar: o que esperar da moeda para os próximos meses?

Especialistas no mercado financeiro comentam os fatores que influenciaram a instabilidade da moeda

Após o dólar sofrer queda de 15% de março até a terceira semana de junho, sendo cotado por até R$ 4,90, a moeda norte-americana voltou a subir em menos de 15 dias fechando a R$ 5,18 na última terça-feira (13). De acordo com o último relatório Focus divulgado na segunda (12), se espera que o dólar encerre o mês de dezembro a R$ 5,05 e chegue ao fim do próximo ano a R$ 5,20.

Depois de o real ter sido a moeda que mais se desvalorizou em 2020, qual a expectativa para os próximos meses? Com a reabertura da economia, commodities em alta e ampliação da vacinação, podemos ser otimistas e esperar por uma valorização da moeda brasileira frente ao dólar?

De acordo com João Beck, economista e sócio da BRA, a crise que veio com a pandemia fez com que a situação fiscal do Brasil, que já era frágil, se deteriorasse.

"É importante citar que fomos a pior moeda do mundo em 2020. Isso, que vínhamos numa crescente otimista antes da chegada da Covid-19. Com a pandemia, gastamos muito dinheiro, reduzimos excessivamente a taxa de juros e vacinamos tarde. O dólar disparou como em nenhum outro país", avalia.

Já neste ano, segundo Beck, a situação fiscal começou a melhorar. "Os preços de commodities subiram e estamos retornando com a taxa de juros para patamares de maior equilíbrio. Mas, no cômputo geral, a moeda ainda está em níveis muito acima do período pré-Covid".

Para Rossano Oltramari, estrategista e sócio da 051 Capital, um dos motivos que explica essa valorização do real nos últimos três meses é a decisão do Banco Central, preocupado com a aceleração da expectativa de inflação, de elevar a taxa de juros interna, que saiu da mínima histórica de 2% e passou a 4,25% ao ano. Outro motivo é, sem dúvidas, o ciclo de alta nas commodities.

"Isso faz com que entre muito dinheiro no Brasil, ou seja, exportamos a mesma quantidade de produtos de antes, mas entra no país maior quantidade de capital estrangeiro em função do aumento do preço das commodities nos últimos 12 meses. Isso faz com que a nossa moeda ganhe valor e que a balança comercial fique mais forte", explica.

Gustavo Cuencas, educador financeiro e fundador do Canal de Alta, acredita que a proposta de Reforma Tributária encaminhada pelo governo ao Congresso - que institui a cobrança de impostos sobre dividendos, aumentando também a tributação de empresas em favor do aumento da faixa de isenção do imposto de renda de pessoas físicas - é outro fator que pressiona o dólar.

"A Reforma Tributária precisa ser modificada em alguns aspectos para atrair mais investidores estrangeiros. Tanto é que muitos tiraram dinheiro do mercado brasileiro novamente depois que a reforma foi apresentada. A Reforma Tributária, sem dúvida, é um dos pontos principais para a entrada de dinheiro no país", afirma.

O futuro do dólar para os próximos meses é difícil de prever e depende de um conjunto de fatores. Segundo Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos, questões políticas também podem influenciar no valor da moeda. "Conforme os meses passam, as eleições se aproximam, o que pode provocar muita instabilidade. Mas se o Brasil continuar subindo juros, como o previsto pelo próprio Banco Central, e as commodities continuarem em alta, há grande chance, sim, de o dólar cair gradualmente e chegar a um ponto de equilíbrio, que seria de R$ 4,50 a R$ 4,80", diz.

Beck também concorda que motivos políticos têm atrapalhado a moeda brasileira de se valorizar mais: "Por fatores puramente técnicos como preço de commodities, superávit fiscal, dívida/PIB, já poderíamos estar mais próximos dos R$ 4,50. Mas as incertezas políticas ainda bloqueiam novos fluxos externos. O que está diretamente no radar é a política. Importante notar que histórias aparentemente desconexas já são resultado da aproximação do embate eleitoral, desde todo o imbróglio da CPI [da Covid-19] até a pauta para derrubar a urna eletrônica".